segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Amizade.....

Ensaio sobre a amizade

Lya Luft

'... e amigos fazem parte de meus alicerces
emocionais: são um dos
ganhos que a passagem do tempo me concedeu.
Falo daquela pessoa para quem possa telefonar, não
importa onde ela está
nem a hora do dia ou da madrugada e dizer: 'estou
mal, preciso de você'.
E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião,
correndo alguns
quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o
tempo necessário
para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não
me mate, seja lá o que for. (...)
Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu,
uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e
acertos. A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme - o
que é, cá entre nós, uma bela vantagem.
Ser amigo é rir junto, é dar o ombro pra chorar, é
poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou
namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até
brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma.
Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair pra pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e
pega junto com as dela ou até mesmo se nem tem criança naquele
colégio.
Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia
demais, e ele chega confortando, chamando de 'minha gatona' mesmo que a gente esteja um trapo.
Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde
cedo, e não viveria sem eles (...)
Nesta página, hoje, sem razão especial nem data
marcada, estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou bruta, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim.
E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente
não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer
malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristeza.
A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e
desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo.
Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,
engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna: ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor.'